Sobre a existência

Às vezes me perturbo pela falta de gente que existe no mundo!
Não gente de qualquer tipo ou sabor!
Gente que sabe que existe.

Saber que existe...

São poucos os que em minha opinião sabem que existem
Saber existir é o mesmo que se situar no mundo e se comportar como uma lupa:

Olhar para dentro de si e ver o outro
Olhar para o outro e ver a si mesmo

Não falo de números, quantidades, cifras de seres humanos que estão no Planeta e existem de fato, fisicamente presentes no tempo e no espaço.

Mas muitos deles não sabem que existem!

Sentir a existência.
Como explicar tal sentimento?

Não se trata de nostalgia, romantismo ou solidão...

Trata-se de sentir o outro, colocar-se em seu lugar, vislumbrar o que temos de mais humano dentro de nós mesmos: a nossa própria humanidade e a dos outros.

É como se fosse uma simbiose, só que entre humanos: cada um se beneficiando do outro, sem haver a aniquilação de nenhum dos corpos.

A lágrima que escorrega do olho é de vergonha por viver num mundo de não-seres humanos!
Que não enxergam a si mesmos, nem os outros que os rodeiam.

Que não vêem que na morte, na miséria material ou espiritual do outro está a sua, a nossa própria degradação humana!

Deixamos de existir a cada minuto em que deixamos de nos comportar como humanos, em que não exercitamos a nossa humanidade, em que não reconhecemos nos outros nós mesmos e vice-versa!

A antropologia poderia ter nos ensinado esta lição, mas ela mesma, até hoje enxerga o outro como outro e não como nós.

A Filosofia tem nos alertado timidamente sobre o desaparecimento do humano no mundo, quando faz com que pensemos a respeito de quem somos e para onde nós vamos ou que tipo de mundo estamos construindo e que espécies de humanos estamos nos tornando!

Sonhos

Em ver o outro dentro de mim e eu no outro

Em saber que a gente que ama diferente dos outros vai ter a oportunidade de mostrar esse amor, viver esse desejo sem ser olhado como extraterrestre.

Pensemos o que pode ser extraterrestre: aquilo que está para além da terra., planeta, espaço ou corpo físico presente e ausente de massa ou energia terrestre. Mas o universo não é um todo que pode ser apreendido em sua diversidade (partes), que combinadas entre si formam-se mutuamente em diversas dimensões singulares e plurais ao mesmo tempo!?

Por que como humanos não exercitamos esse pensamento: um e mais milhares de outros todos divisíveis e indivisíveis, repletos de contradições, diferenças, singularidades, multiplicidades...

Mas que em comum temos a certeza de que somos ao mesmo tempo um e outros. Um quando nos reconhecemos e nos vemos a nós mesmos dentro de cada espaço que construímos e moldamos no decorrer da nossa existência.

Outros, quando nos reconhecemos mutuamente nesse mesmo espaço, quando encontramos a nós mesmos nos outros e outros nos encontram e assim nos situamos neste e em outros espaços materiais e espirituais, seja no nível da cognição ou em outros campos existentes e considerados sagrados, em qualquer dimensão, religiosa ou laica.

Exercitar o humano dentro de nós deveria ser uma atividade constante desde os primeiros dias em que nos encontramos no útero materno, até em que saímos de nosso casulo e somos expelidos para o mundo e mais uma vez nos recolhemos no útero terrestre.

Veja como a vida é esteticamente bela: vivos, respirando, nos alimentando dentro de um ser feminino, durante nove meses. Até que um sono profundo nos acomete e nosso corpo adormece dentro do útero da terra. Dizem que nosso espírito ou nossa energia, digamos vital, se mantém ainda presente, habitando outros espaços, às vezes outros corpos, nesta ou em outras dimensões, seja no sentido religioso, sagrado, seja no sentido material, quando deixamos nossos pensamentos e lembranças presentes no mundo!

Viver a vida! Eis uma decisão que muitos temem! Até este momento não sei se vivo a minha, mas reflito sobre ela e aquelas que estão presentes comigo ou sem mim no mundo em que habitamos e construímos juntos ou separadamente.

Não me importam lições morais ou éticas! Importo-me em construir um ou mais mundos moralmente e eticamente! Um ou mais mundos onde nossas subjetividades sejam respeitadas em suas multiplicidades, entendendo o humano em todas as suas dimensões: física, abstrata, biológica, social, política, cultural (simbólica).

Procuremos então lugares para nossos corpos. O meu e o seu corpo. Um e outro. Outro e um. Livres para a escolha daquilo que pode nos tornar mais humano, “humano, demasiado humano”, conforme nos apontou Nietzsche.

A vida deveria imitar aquelas frases em que usamos as reticências para enxergamos que ela continua. A gramática errou quando colocou um ponto final em nossa existência!

Cícero Rogério, num domingo de verão do ano de 2007! Fevereiro, 25.

Um comentário:

por aí disse...

bjo na careca e espero ainda vê-lo inteiro..